quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Texto da última prova interdisciplinar do ano letivo de 2010.



CE MONSENHOR MIGUEL DE SANTA MARIA MOCHÓN

AVALIAÇÃO INTERDISCIPLINAR – 4º Bimestre – 2010

HUMANAS

Pobreza mata, escola salva

Ser miserável ou indigente é "morrer" aos poucos todos os dias. A pobreza mata. A pobreza esfacela famílias. Em moradias marcadas pela pobreza é possível perceber até uma certa banalização da morte. Para quem "morre" um pouco todos os dias, o fim definitivo, infelizmente, pode ser encarado como desdobramento do cotidiano.

Um marido que espanca sua mulher ou companheira, "morre" como marido. Se uma mãe manda a filha para a exploração sexual, ela "morrerá" como mãe. A mãe que deixa de levar o filho à escola, porque pensa que ele poderá ser mais útil à família trabalhando nas ruas ou em atividades irregulares, também "morre" como mãe, porque está comprometendo o futuro do filho. E um pai que abusa sexualmente de seus filhos? Este "morre" como pai, definitivamente.

São essas "mortes" diárias que vão construindo e consolidando cada vez mais miséria e mais pobreza. No filme, tudo isso fica muito mais evidente, mesmo para alguém, como eu, que trabalha como assistente social há mais de 16 anos e convive com personagens reais que se encaixam perfeitamente nesta história de ficção.

É hora de banir a miséria da história brasileira. Não podemos e nem temos mais condições éticas de apenas fazer a gestão diária da pobreza. Precisamos dar um salto e dizer ao país que não aceitaremos que a indigência e a miséria passem de geração para geração, como heranças macabras.

Se for eleita a aliança da educação com a proteção social será possível acabar com os "assassinatos simbólicos" que acontecem nas famílias em conseqüência da pobreza. O caminho para mudar esta realidade é a escola. É lá, sem dúvida, que se fará uma revolução na vida das famílias em desconstrução.

A escola deve ensinar, mas também proteger. Além de aplicar provas e cobrar frequência, é preciso que a instituição observe com atenção as reais condições de vida de seus alunos e que passe a construir soluções por meio das políticas públicas de saúde, assistência social, habitação, cultura e outras tantas.

Um país como o nosso pode, e deve, ter uma escola que agregue educação e proteção social para salvar vidas, vínculos familiares e comunitários. Uma escola com professores, assistentes sociais, sociólogos, psicólogos e até mesmo arquitetos para garantir melhorias nas precárias moradias dos alunos e de suas famílias.

Se não estivermos convictos de que vivemos uma imensa urgência social, nossos braços se cruzarão naturalmente. Acontece que tem gente querendo viver. E o Brasil precisa agir.

(MARCELO GARCIA, O Globo, 8 de março de 2010. Adaptado.)

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